
É de vidro o meu peito, é de vidro e parte, parte para bem longe, e desfaz-se nas minhas mãos. Que lâminas estranhas essas que usas para dilacerar as minhas células! Que pérfido sorriso esse, que emanas por tão bela alma, que luzes brilhantes as que te incêndeiam a aura. Um abraço! Que mais me resta pedir-te? Apenas um abraço, um que não rasgue os meus musculos, que nao destrua as minhas veias, apenas um abraço, um tão forte que me esmague o ser, um tão forte que me faça desaparecer, um tão meigo que me faça sentir teu.
Esconde os punhais, deixa de lado essa mesa de tortura em que te recrias com os meus demónios.. Vem apaziguar este resto que há em mim, vem lançar água neste solo seco e farto em pegadas. Desde sempre deambulou nele um espectro de nós.. marcando a fogo cada passo.
Estou cansado, doem-me estas cartilagens velhas, estes ossos impuros, e sinto que mais um nervo se me rasga.. Estou velho, sinto me velho... A velhice segundo dizem é um posto, mas um posto de quê? De amargura e devaneio? De procura pela idade perdida? De deleite e harmonia?
Não sinto nada disto.. sinto apenas este mofo que me infecta cada poro como se estivesse morto, sinto apenas este peso de um cadáver que se nega a cair no chão.. Estarei vivo sequer? Julgo que sim, no entanto sinto me frio, sinto me muito frio, tão frio que me congelam os sentidos, tão frio que me é negado continuar.. Vou esperar, continuarei a esperar.. imagino que algum dia será a minha vez.. Vez de sentir aquele calor que emana a tua pele, aquele aroma a inocência perdida, aquele aroma a ti...