domingo, 18 de novembro de 2007

Cigarro intimo...


Se o desejas tanto, porque o negas?
Era preferivel coexistires na verdade absurda, de que é possivel uma pureza de sentidos sem região limitrofe.
Se o desejas tanto, porque o negas?
Aceita o facto de que todos vivemos sós, apesar de criarmos universos paralelos habitados por entidades que nos confortam os sentidos.
Se o desejas tanto, porque o negas?
É por ser tão dificil ver nesta imensidão enevoada, que te elimina a capacidade de buscas as armas com que te mutilas?
Se o desejas tanto, porque o negas?
Pára, escuta e olha, absorve em ti o conhecimento duma realidade objectiva, pura e destruidora.
Se o desejas tanto, porque o negas?
Senta-te, fuma lascivamente esse cigarro e procura excitar em mim o prazer encapuçado de te ter.
Se o negas tanto, porque o desejas?
Talvez porque vejas que nessa réstia, de folego há um corpo inanimado pela intempérie.
Se o negas tanto, porque o desejas?
Imagina por um momento que tudo pára, e nesse silêncio te encontras, e descobres que és tudo o que rejeitas..

Palavras


Palavras nada mais são que breves rabiscos que aguardam o desvanescer da tinta. É nas acções que está o vislumbrar de uma nova madrugada...

Lama (mensagem a um amigo)


O pó, amigo, é tudo o que temos garantido. Até lá, viveremos sobre uma chuva que nos mantém colados ao chão.

Ansiedade


Este estrangular constante, desfaz-me em moléculas. Nesta biologia caótica, crio raizes absurdas envoltas em lama. Na petulância arrogante destes passos, elevo me além atmosfera, divago entre terras revoltadas pelo arado rude de mãos alheias.
Este rumo, nada mais é que um lançar de sementes ao chão numa laiva de vento fortuito.
Ergo estas mãos calejadas e rezo para que daqui saia fruto.

Transparência


Dificil não é aceitar a morte, doloroso é tomarmos consciência da não existência do nosso ser. Viver isolado pela permanente inconstância criada pela absolvição dos movimentos, transmutar na liberdade alheia como se pó fossemos. Pó que nos invade e procura fraquezas no organismo, para se fazer sentir através de uma infecção. Mundo secreto esse, de putrefacção pessoal, reflectidas convulsões que apagam movimentos circulares de neurologia avulsa.
Longe vai o tempo de procura da meta do infinito, isso findou na época do sonhador.
Hoje, o sonho, mais não é que saudade.

Protesto de resignação


Protesto, contra vós ergo a minha fúria, pelo contestar do movimento desconexo. Ah raiva crescente e constante, desafio-te a sugar em mim as células articulatórias deste movimento perpétuo.
Como julgam vós que me sinto nesta inconstância desleal de sentidos?
Ah tormenta que me quebras neste cair direito ao cortex. Sim, aqui onde tudo é promovido com base no prazer e no desgosto. Raios, já disse que basta e que protesto...
Sim acendi mais um cigarro, que me interessa que mate? Também minha mãe matou quando me fez nascer.
Não sabias? Sim, morrerei! Como? Se bem me recordo, apagam as luzes do teu ser e dizem te... the end

Gelo interno...


Levanto este copo de veneno e discurso palavras futeis em jeito de verso, já nada combina com o preto, nem mesmo a noite.
Ao primeiro drago deste néctar que me derrete a traqueia sinto me crente, peço a Deus que me faça planar e sair deste corpo que me prende a um chão que não quero pisar. Ao segundo drago, o meu corpo fraqueja e caio de joelhos sobre o soalho podre das térmitas, sinto uma dor no peito, o meu coração bombeia apenas um ácido que me consume.
Ao terceiro drago fecho os olhos, desligo-me deste corpo e toco as tuas mãos.
Estás fria, mas apenas me interessa saber que estás comigo.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Procura de condição


Nesta linha recta em jeito de vale chamado vida, a lua desvia a minha atenção para as possiveis ramificações existentes, neste mapa absurdamente real que é o destino.
Perfilados como prisioneiros já vão marchando os meus ideais rumo ao abismo da não aceitação. Os rasgos na minha pele, tornam insustentável a aquisição do conhecimento do real.
Vejo me obrigado a existir no escuro, sem direito a delinear com os meus dedos as curvas do teu rosto.
Vejo me obrigado a coexistir nesta recta em jeito de vale, onde a lua é tão negra, como o negro que envolve o meu mundo.
Caminho neste solo agreste, rumo a lado nenhum, mas algures pelo caminho, ouvi que parar é morrer, e morrer é descer a mais absoluta escuridão.
Serei especial por estar vivo neste espaço, onde ja tudo sucumbiu ao passar do tempo? Onde o pó é inevitavelmente tudo o que resta? Especial!? Não o diria! Mas sendo nós pó, poderiamos dizer que estamos mais perto da nossa condição.
E isso nao seria especial mas sim raro

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Manchas


A rotina instiga as mais simples almas ao desassossego. A clausura diária do infinito, impossibilita a busca de novos horizontes. Será demais querer criar nebulosas sentidas e perfiladas no mais intimo de cada um de nós? Ou por outro lado, almejar a criação de um céu finito e sem estrelas, tem que ser por obrigação um desejo do triste?
O vazio tem encanto por ser desprovido do tudo, a magia encanta pela surpresa da existência, mas no fundo, a ilusão transparece a tentativa de buscar o magnifico.
Há magnifico no nada, há infinito e finito, há tudo sem haver coisa nenhuma. Cada pingo que molha hoje o rodapé da minha janela será um nada quando secar, cada mancha que surge é um vestigio da nossa passagem, é a coexistência do irreal com o nada que nos sustenta no plano fantástico traçado pela mão fria do destino.

Doce melodia do nada


Da terra amaldiçoada ergue-se ja o pó daqueles que um dia foram herois. Vitimas do nada. Agora já nada resta, além do suave cheiro de uma rosa que sucumbe no solo agora seco.
Os ventos que outrora erguiam vida a cada rajada, transportam agora facas de gume afiado que nos cegam. Se ao menos por um breve momento visse a pureza de todas as coisas, saberia se tudo nao tinha sido mais uma utopia envolta no cheiro das rosas frescas, agora negras e frias.
Deita agora a tua cabeça na terra, permite que o teu corpo se una com os elementos, jaz por um instante na doce melodia do nada.

Partilha..


Quando o vento sopra por entre o vale do sol, a autoestrada da nossa mente, aviva a luz da nossa existência, por entre as ramificações abruptas da nossa vida.