terça-feira, 25 de maio de 2010

Auto Retrato


Às vezes desejo morrer, mas no fundo sei que não sou fraco ao ponto de alguma vez me matar. Admito que nem sempre sou a pessoa mais conviniente, mas no fundo ninguém é. Poluimos o nosso proximo como bons virus que somos, infectamos cada um dos seus sentidos, e à medida que nos aproximamos mais, perdemos um pouco de nós na absorção do outro. A individualidade nunca deixará de ser a utopia do Homem, e com ela morremos. No fundo dizer que alguma vez existimos poderá ser uma fantasia tão grande como a própria adopção do conceito de tempo. Onde vivem os fantasmas? Onde estão as memória? Será que as memórias não serão apenas fantasmas que nunca partiram ou se perderam no tempo? O tempo mais não é que a própria noção desfigurada do que somos, e nisso esta a tristeza da não existencia de futuro. Vivemos no limbo, somos aquilo que nunca será ou que alguma vez foi, somos o momento e a circunstância que ele encerra, somos nada sendo tudo, e nunca nos vamos encontrar, porque não sabemos olhar o agora. Vivemos aprisionados à face reflecida no espelho, somos guardas do nosso próprio sofrimento, não coabitamos a orbita de nenhum astro, somos apenas o buraco negro dos nossos sentidos, as estrelas dos nossos sonhos, e a doença encarnada no virus.